A música que cresce na Baixada Fluminense
De uns anos para cá, a cena musical da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, está em polvorosa. São inúmeras bandas e artistas, do rock ao rap, selos independentes e pequenas produtoras que fomentam a cultura na região e incentivam novos artistas a mostrarem seus trabalhos. Em 2015, um dos grupos que surgiu dentro deste cenário foi a gorduratrans, duo que é metade Baixada, metade Zona Oeste. Felipe Aguiar, 23, e Luiz Felipe Marinho, 24, se conheceram em um grupo do Facebook procurando integrantes. Luiz, baterista, foi convidado para participar do antigo conjunto do Felipe, e a amizade entre os dois cresceu ao ponto de considerarem um projeto paralelo. “A ideia não era ser um duo, mas vimos que funcionava desse jeito. Estruturamos a sonoridade das composições para que funcionasse assim. Em julho já estávamos com o disco todo gravado”, conta Felipe.
O primeiro álbum da gorduratrans, repertório infindável de dolorosas piadas foi lançado em setembro de 2015, pela Bichano Records, selo independente de Nova Iguaçu. A Bichano chegou ao fim em 2016, e foi um dos nomes da cena de rock independente da Baixada nos últimos dois anos. A banda, com suas guitarras distorcidas, foi um dos principais nomes do catálogo do selo. Luiz e Felipe chegaram a fazer shows em São Paulo e passaram pelo Nordeste com uma turnê organizada por amigos e entusiastas.
Felipe diz que a distância dificulta a movimentação deles no contexto em que estão envolvidos, concentrada principalmente na Zona Sul e Centro da cidade. “Chegar nos rolês, ir embora de madrugada com equipamento nas costas, e até mesmo assistir aos shows até hoje é difícil porque levamos até duas horas para chegar nos lugares”. O vocalista também avalia: “Perceber o crescimento da banda foi algo muito bom, principalmente sabendo das dificuldades por sermos do subúrbio. Até o ano passado eu usava uma guitarra emprestada nos shows”.
A gorduratrans representa um cenário que cresceu exponencialmente nos últimos três anos. O discurso “faça você mesmo” encoraja outros jovens a correrem atrás de fazer música. Foi o que a dupla carioca fez. “A banda não tinha pretensão de nada no começo, só queríamos fazer um disco”, conta. É dessa falta de pretensão que tem nascido uma variedade de álbuns e selos para divulgá-los, e distribuir o material de forma independente através da internet.
Essa difusão de selos – que são diferentes de gravadoras – tem se mostrado benéfica. Ao movimentar a música independente nesta área da Zona Metropolitana, os selos conseguem propagar a música e agrupar artistas que se identificam com o estilo de cada selo, além de promover eventos de baixo custo para a divulgação das bandas.
Um dos exemplos é a Valente Records, de Duque de Caxias. O selo ganhou destaque no início de 2017 e seus responsáveis são jovens de 17, 18 anos de idade. “A Valente surgiu ano passado, quando a gente percebeu que três bandas daqui possuíam um grande potencial pra fazerem música, mas não havia nenhum meio de divulgação musical na Baixada”, explica Vinícius Cardoso, que cuida do selo e tem seu próprio grupo, o santarosa.
Para Vinícius, o saldo tem sido positivo ao se incluir neste cenário. “Poder trazer bandas para cá, as conhecer melhor, fazer o pessoal da Baixada perceber que a música feita por aqui também é boa. Tá sendo muito lindo.” O guitarrista da santarosa também se mostra esperançoso para o futuro do selo independente. “A gente espera poder conseguir emancipar cada vez mais o reconhecimento dos nossos artistas. Poder promover turnês daqui a um bom tempo, quem sabe? É muito incerto”.
Após conhecer o exemplo da gorduratrans e da Valente Records que avivam o cenário musical da região, pode-se concluir que muitos talentos residem nos municípios da Baixada e como é importante descentralizar a circulação de bandas independentes na cidade do Rio de Janeiro, trazendo cada vez mais o foco para as regiões além do túnel.

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